O renascimento de Sócrates
POR: Mariana Ribas
Sim esse mesmo, o eterno mal amado, esse que provoca na maior parte das pessoas um retorcer de cara quando o seu nome é invocado, mas sim, é mesmo esse que está a pensar, José Sócrates, o nosso novo Primeiro-Ministro de Portugal, reeleito para espanto de alguns.
Sócrates garantiu no passado dia 27 o que muitos consideravam uma missão impossível depois de uma governação marcada pela arrogância e teimosia, a vitória. Previa-se que todos se iriam lembrar da guerra contra os professores, do caso Universidade Independente, do caso Freeport, da chamada asfixia democrática, mas também e principalmente de um homem que transmitia uma imagem forte de confiança no inicio do mandato e que rapidamente se modificou para alguém intransigente e arrogante…
Mas não, tal não aconteceu, pelo menos na proporção que se esperava.
Não negaremos contudo que Sócrates esteve bem em várias áreas, como no desenvolvimento tecnológico, na saúde (depois da entrada de Ana Jorge), nos apoios sociais, entre outros. Apostou forte na tecnologia e venceu essa batalha, exemplo disso é o Magalhães, que tantas vezes é “maltratado”. Foi sem dúvida uma aposta ousada e ganhadora. Portugal é hoje o primeiro pais onde todos os alunos do 1º ciclo tem acesso a um computador.
Bem, mas deixemo-nos de falar de uma legislatura que fica agora para trás, o importante neste momento é falar do futuro, e que futuro será esse depois dos resultados pouco sossegadores das legislativas? Efectivamente, Sócrates perde a maioria, PSD mantém sensivelmente os mesmos deputados, CDS/PP e BE tem vitórias estrondosas passando mesmo o CDS/PP para terceira força politica e o BE para quarta, por fim a CDU, que sempre no seu registo habitual ganha mais um deputado mas passa a ser a quinta força politica. É ainda importante realçar que o extraordinário resultado alcançado pelo PP se deve na sua maioria à excelente campanha realizada por Paulo Portas, que com o seu trabalho e dedicação ressuscitou um partido que muitos já pensavam estar em perigo de extinção.
Depois de uma campanha renhida(pelos menos assim o aparentava), fomos deparados com resultados com os quais não sabíamos bem lidar, e por isso surgiu uma pergunta que agora assombra a todos; Como vai Sócrates governar sem maioria sendo ele conhecido como um líder tão arrogante e pouco aberto a diálogo? Atrevo-me a dizer que essa pergunta também assombra o nosso Primeiro-Ministro por estes dias…
Sócrates tem várias hipóteses, coligar-se com o CDS e obter maioria, coligar-se com o BE e CDU para obter também maioria (pois juntado PS e BE não chega) e por fim pode fazer o chamado bloco central juntando-se ao PSD, o cenário mais improvável. Pondo de parte as coligações existe sempre a opção de fazer acordos parlamentares dependendo de cada matéria, que a meu ver é a melhor opção para um líder como Sócrates. Não fica permanentemente ligado a nenhum partido, e longe do olhar publico, conseguirá chegar a consensos mais facilmente.
Mas falemos de outra aspecto importante destas eleições, a derrota de Manuela Ferreira Leite, ela que tinha tudo a seu favor para se tornar na segunda mulher portuguesa a ocupar o cargo de Primeira-ministra depois de Maria de Lourdes Pintassilgo
O que fez errado? Porque Manuela falhou?
Aceitando que vem de outra geração e tem valores diferentes, mesmo assim podia ter feito bem melhor; a sua campanha não motivou, os comícios (algo que a própria disse não gostar e por isso adoptou um sistema diferente) ou melhor as reuniões com apoiantes eram monótonas e pouco faziam para chamar para si por exemplo, o eleitorado jovem, que procura as tão famosas lutas politicas e por elas dá tudo. Manuela não foi capaz de os manter e muito menos de os chamar. Outro ponto onde falhou redondamente foi no programa eleitoral apresentado, era um aglomerado de ideias gerais sem especificar nada em concreto. Ferreira Leite bem dizia que só iria prometer aquilo que conseguia cumprir, mas ao ler o seu programa, ficamos sem perceber aquilo que promete e, por isso, caso ganhasse, teria margem de manobra para fazer quase tudo sem ser apanhada em contradição com o seu programa… A meu ver um erro gravíssimo por parte do PSD, que o eleitorado na dúvida não subscreveu.
Manuela sai assim pela porta pequena, aguentando a liderança do partido até as eleições autárquicas mas, de seguida, o mais certo é demitir-se do cargo, e provavelmente da vida política. Manuela podia e devia ter feito melhor, concorria contra um candidato desgastado, e mal visto aos olhos dos portugueses, parecia tarefa fácil vence-lo e Manuela conseguiu o inimaginável, não ganhar e ter um resultado semelhante ao de Santana Lopes nas anteriores legislativas.
Posto isto, que lições podemos tirar destas eleições?
-Que maiorias absolutas arrogantes jamais funcionam;
-Que uma oposição que queira ganhar eleições tem de escolher um candidato com garra, que mostre que está ali todos os dias de corpo e alma a lutar! Mas principalmente alguém que entusiasme multidões, e nisso Ferreira Leite foi um completo fracasso.
-Por fim a melhor lição que podemos tirar é que PS e PSD não devem subestimar os partidos “pequenos”, pois estes têm vindo a demonstrar que são uma força crescente, e que num futuro próximo vão mesmo precisar destes para governar!...
Ora, cabeça a minha, já precisam.