Entrevista #2 - com João Ribeiro


Whisper - Como surgiu o interesse pela fotografia?
João - Não lhe chamaria interesse, mas sim fascínio. Sempre vi dessa forma esta linguagem tão expressiva como a fotografia. Mas sendo concreto, surgiu quando decidi pegar na minha compacta Sony, e bati umas fotos ao meu baixo. Daí surgiu o interesse de aprofundar mais a temática, pois o resutado dessa fotografia foi interessantíssimo. A nível de fotojornalismo, foi quando fiz a minha primeira reportagem fotográfica, na altura para a (mítica) revista UNDERWORLD, do último concerto de Decapitated em Portugal (Panóias, Braga).


W - Como foi o inicio da experiência como fotografo e o processo de aprendizagem?
J - Estranho e aliciante. Nunca havia estado num evento sem ser enquanto público. Ali era diferente: tinha uma responsabilidade a cumprir, e pessoas para não desapontar. Correu tudo bem, e foi como quando fui a primeira vez ver o Benfica: ao fim de tantos anos, continuo a estar lá sempre! A nível de aprendizagem, todo o processo foi feito de uma forma autodidacta, até 2008, ano em que ingressei no Instituto Português de Fotografia, para fazer o Curso de Profissional de Fotografia.


W - Quais foram os principais obstáculo e metas atingiras?
J - Sinceramente, poucos. Sempre lutei. Neste Mundo (da fotografia), muitas portas se fecham. Nunca desisti, tendo sempre a noção de que se 20 se fechassem, a 21ª poder-se-ia abrir. Muitas se fecharam, muitas se abriram felizmente. E isto aconteceu, pura e simplesmente devido a três factores: persistência, mérito e suor.


W - Quando paras de fotografar durante longo período de tempo sentes falta de pegar na máquina e disparar?
J - Óbvio. Acontece com toda a gente que, felizmente, a possibilidade de fazer na vida o que gosta. Não digo que não tenha férias (e felizmente tenho possibilidade de as fazer muitas vezes), mas quando as tenho, sinto um pouco daquele bixo da saudade.


W - Quais são as tuas principais influências nesta área?
J - A nível de fotógrafos? Não muitos, pois gosto de fotografar com a minha identidade e não com aquele pensamento de “vou fazer esta foto, como o X fez”. Posso referir três nomes cujos seus trabalhos são por mim dignos de destaque: Henri Cartier-Bresson (pai do fotojornalismo), Paulo Pimenta (fotojornalista do jornal Público) e Leonel de Castro (fotojornalista do Jornal de Notícias).


W - Consideras o tratamento de imagem essencial ou dispensável?
J - Há quem continue a dizer que photoshop ou outro software de edição, pois com o digital, a verdadeira essência da fotografia perdeu-se. Só usa o digital quem quer. Só edita quem quer melhorar. Pois ainda estão para vir câmeras que façam uma fotografia com um determinado “grau” de Sharpen e saturação (exemplo), e que na próxima já apliquem outros filtros diferentes. Isso então no fotojornalismo dava cá um jeito...


W - Com o surgimento da era digital, a fotografia passou a implicar custos muito menores. Na tua opinião, quais são as principais consequências que isto tem na fotografia e no seu meio?
J - Muito resumidamente? Desvalorização dos profissionais. Hoje em dia, quem trabalha num jornalizinho da terra ou faz uma foto-sessão com uma banda, já se considera um profissional no meio. Quando é assim, questiono quantos desses possuem formação, Carteira de Jornalista Profissional ou até mesmo, material profissional. Atenção, com isto não estou a dizer que os “amadores” não têm valor. Digo sim, que há “amadores” que levam a sua paixão longe demais, impedindo que um determinado serviço seja feito por um profissional, apenas porque o “amador” é amigo de quem lhe propõe a realização desse serviço. É basicamente como comprar roupa no Shopping, e não comprar no mercado tradicional: a qualidade tem um preço.


W - Nas tuas galerias online podemos encontrar várias fotografias de eventos sócias. Trata-se de trabalho ou gosto? O que mais caracteriza esse tipo de fotografia?
J - Trabalho e gosto. Existe X evento a decorrer em Y local. Pouco me interessa quem lá vai estar ou onde vai ser. O importante, é que vai decorrer um evento digno de lhe ser feita uma reportagem, e tenho de lá estar, fazer o meu trabalho e não falhar. Posso dizer-vos que já passei algumas dificuldades (a nível de condições de trabalho no local) para fazer este tipo de fotografia, mas já passei muito boas noites às custas destes eventos. Para além disso, posso aliar dois gostos na minha vida: a noite, e a fotografia. O que mais caracteriza este tipo de fotografia, é o facto de, sem um flash, não ser possível fazer uma reportagem decente. É basicamente flashada na cara, e o resto é técnica fotográfica aliada à beleza (ou não) dos fotografados.


W - Existem projectos para o futuro?
J - Muitos, aliciantes e com metas a serem atingidas. Felizmente, cheguei a um ponto em que novas metas terão de ser definidas, pois as que deliniei à alguns anos atrás, já foram atingidas. A ver vamos o “amanhã”, mas certamente não serão as centenas de portas que se fecham que me farão desistir.


W - Para finalizar, alguma mensagem que queiras deixar aos leitores, fotógrafos, promotoras, revistas…?
J - Valorizem o profissionalismo. Não hesitem em falar com um bom profissional, quando esse profissional vos traz segurança mesmo antes de sequer ter visto o resultado final do trabalho ao qual lhe pediu. Movam-se. Saiam de casa com a câmera e vão fazer fotografias do que mais gostam: sejam eventos em que não necessitam de acreditação, sejam sessões de moda cujo modelo é o melhor amigo e não cobra, seja montar um set de luz em casa e fazer fotografia publicitária. Assim comecei, assim construi o meu portefólio, assim se abriram as tais portas, assim consegui colaborações com diversas publicações nacionais, assim consegui a minha Carteira de Colaborador Especializado, assim continuarei a lutar. Um bem haja a todos por este tempo dispendido!

POSTED BY Joana Vieira
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