China pressiona Obama
Depois da tensão gerada pela venda de armas americanas a Taiwan, os EUA voltaram a irar a China com o anúncio do encontro do Presidente com o Dalai Lama. Pequim exige o seu cancelamento.
A confirmação de que Barack Obama iria receber o líder espiritual tibetano a 18 de Fevereiro foi feita ontem, pela Casa Branca. A única concessão a Pequim foi o local: em vez de decorrer na Sala Oval, como acontece com os líderes estrangeiros e convidados importantes que visitam o Presidente, a conversa decorrerá na Sala dos Mapas.
Ainda assim, não foi o suficiente para evitar uma resposta firme do regime chinês. “Exortamos os EUA a compreenderem o carácter muito sensível das questões tibetanas, a respeitarem escrupulosamente o seu compromisso sobre o facto de o Tibete pertencer à China e a sua oposição à ‘independência tibetana’”, declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ma Zhaoxu, num comunicado. É por isso que a Administração americana deveria “anular imediatamente a decisão errónea de um encontro entre o Presidente Obama e o Dalai Lama”. Pequim, acrescenta, já apresentou “um protesto formal aos EUA a propósito desta decisão”.
Não é invulgar os Presidentes americanos se encontrarem com o líder espiritual do Tibete (exilado na Índia desde 1959, depois de falhada uma sublevação contra as forças chinesas). E a cada um desses encontros, a China responde com uma reprovação veemente.
Obama tinha evitado receber o Nobel da Paz da última vez que este visitou os EUA, em Outubro, pela proximidade da sua deslocação à China, país que elegeu como parceiro estratégico. Foi criticado por vários grupos de defesa dos direitos humanos por isso.
Ontem, e já depois de se saber que este encontro iria realizar-se brevemente, o seu porta-voz, Robert Gibbs, confirmou a data. E justificou: “O Dalai Lama é um dirigente religioso respeitado internacionalmente. É um porta-voz dos direitos dos tibetanos. O Presidente deseja um encontro empenhado e construtivo”.
Gibbs afirmou ainda que os dois países são “suficientemente maduros” para encontrar um entendimento comum em questões de interesse mútuo, ainda que haja desentendimentos noutros tópicos, adianta a Reuters. “Sabemos que os dois países não vão concordar com tudo”.
O mesmo responsável lembrou que Obama tem dado a conhecer às autoridades de Pequim as preocupações americanas face à desvalorização do yuan, a moeda chinesa, que beneficia as exportações da China, mas não as dos EUA, bem como as questões de liberdade na Internet.
Os diferendos entre Washington e Pequim não se ficam por aqui. Para além das divergências diplomáticas – nomeadamente, que abordagem tomar face ao programa nuclear do Irão, com os EUA a insistir em mais sanções – a questão de Taiwan tem sido a mais sensível.
A ilha, que a China considera uma província rebelde e que ameaça tomar pela força caso declare a sua idependência, assinou um contrato de 6,4 mil milhões de dólares para a compra de armas norte-americanas. A decisão de vender o arsenal levou Pequim a anunciar sanções militares contra os EUA e as empresas americanas envolvidas no negócio do armamento.
O encontro que Obama se prepara para ter com o Dalai Lama, visto por Pequim como um separatista e instigador da revolta no Tibete, promete acentuar ainda mais o mal estar. Zhu Weiqun, vice-ministro do Departamento de Trabalho Frente Unida, do Partido Comunista Chinês, já avisou na semana passada: a reunião “vai prejudicar a confiança e a cooperação entre os dois países. Como é que isso vai ajudar os EUA a ultrapassar a actual crise económica?”
Mas a pergunta também pode ser invertida. O que tem a China a ganhar com um confronto com os EUA? Nada, exlica o editorial da “Economist” desta semana: “A América e a China não são apenas rivais na influência mundial, também são economias mutuamente dependentes, com tudo a ganhar de uma cooperação. Ninguém vai prosperar se os desacordos se tornarem conflitos”.
Fonte: Público
A confirmação de que Barack Obama iria receber o líder espiritual tibetano a 18 de Fevereiro foi feita ontem, pela Casa Branca. A única concessão a Pequim foi o local: em vez de decorrer na Sala Oval, como acontece com os líderes estrangeiros e convidados importantes que visitam o Presidente, a conversa decorrerá na Sala dos Mapas.
Ainda assim, não foi o suficiente para evitar uma resposta firme do regime chinês. “Exortamos os EUA a compreenderem o carácter muito sensível das questões tibetanas, a respeitarem escrupulosamente o seu compromisso sobre o facto de o Tibete pertencer à China e a sua oposição à ‘independência tibetana’”, declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ma Zhaoxu, num comunicado. É por isso que a Administração americana deveria “anular imediatamente a decisão errónea de um encontro entre o Presidente Obama e o Dalai Lama”. Pequim, acrescenta, já apresentou “um protesto formal aos EUA a propósito desta decisão”.
Não é invulgar os Presidentes americanos se encontrarem com o líder espiritual do Tibete (exilado na Índia desde 1959, depois de falhada uma sublevação contra as forças chinesas). E a cada um desses encontros, a China responde com uma reprovação veemente.
Obama tinha evitado receber o Nobel da Paz da última vez que este visitou os EUA, em Outubro, pela proximidade da sua deslocação à China, país que elegeu como parceiro estratégico. Foi criticado por vários grupos de defesa dos direitos humanos por isso.
Ontem, e já depois de se saber que este encontro iria realizar-se brevemente, o seu porta-voz, Robert Gibbs, confirmou a data. E justificou: “O Dalai Lama é um dirigente religioso respeitado internacionalmente. É um porta-voz dos direitos dos tibetanos. O Presidente deseja um encontro empenhado e construtivo”.
Gibbs afirmou ainda que os dois países são “suficientemente maduros” para encontrar um entendimento comum em questões de interesse mútuo, ainda que haja desentendimentos noutros tópicos, adianta a Reuters. “Sabemos que os dois países não vão concordar com tudo”.
O mesmo responsável lembrou que Obama tem dado a conhecer às autoridades de Pequim as preocupações americanas face à desvalorização do yuan, a moeda chinesa, que beneficia as exportações da China, mas não as dos EUA, bem como as questões de liberdade na Internet.
Os diferendos entre Washington e Pequim não se ficam por aqui. Para além das divergências diplomáticas – nomeadamente, que abordagem tomar face ao programa nuclear do Irão, com os EUA a insistir em mais sanções – a questão de Taiwan tem sido a mais sensível.
A ilha, que a China considera uma província rebelde e que ameaça tomar pela força caso declare a sua idependência, assinou um contrato de 6,4 mil milhões de dólares para a compra de armas norte-americanas. A decisão de vender o arsenal levou Pequim a anunciar sanções militares contra os EUA e as empresas americanas envolvidas no negócio do armamento.
O encontro que Obama se prepara para ter com o Dalai Lama, visto por Pequim como um separatista e instigador da revolta no Tibete, promete acentuar ainda mais o mal estar. Zhu Weiqun, vice-ministro do Departamento de Trabalho Frente Unida, do Partido Comunista Chinês, já avisou na semana passada: a reunião “vai prejudicar a confiança e a cooperação entre os dois países. Como é que isso vai ajudar os EUA a ultrapassar a actual crise económica?”
Mas a pergunta também pode ser invertida. O que tem a China a ganhar com um confronto com os EUA? Nada, exlica o editorial da “Economist” desta semana: “A América e a China não são apenas rivais na influência mundial, também são economias mutuamente dependentes, com tudo a ganhar de uma cooperação. Ninguém vai prosperar se os desacordos se tornarem conflitos”.
Fonte: Público